domingo, 13 de março de 2016

Novela das 21h: Balanço e expectativa

A Regra do Jogo chegou ao fim nesta sexta (11), depois de 167 capítulos que inovaram ao trazer títulos diários, aos moldes dos seriados, e com uma direção dinâmica e impecável de Amora Mautner, aliada mais uma vez ao texto de João Emanuel Carneiro - dupla responsável por Avenida Brasil.

O balanço da trama até que é positivo, apesar da baixa audiência na metade inicial, em parte pela concorrência com o fenômeno Os Dez Mandamentos, da Record, em parte porque o público demorou a comprar a história repleta de personagens cinzas, sem saber ao certo para "quem torcer" e "quem odiar".

Confira a lista da média de ibope das últimas novelas das 21h, que assim passaram a ser chamadas em 2011:

Insensato Coração, Gilberto Braga/Ricardo Linhares – 35,9
Fina Estampa, Aguinaldo Silva – 39,1
Avenida Brasil, João Emanuel Carneiro – 38,8
Salve Jorge, Gloria Perez – 34,00
Amor à Vida, Walcyr Carrasco – 35,57
Em Família, Manoel Carlos – 29,8
Império, Aguinaldo Silva – 32,8
Babilônia, Gilberto Braga/Ricardo Linhares/João X. Braga – 25,4
A Regra do Jogo, João Emanuel Carneiro – 28
A Regra do Jogo fechou com 28 pontos. Melhor que o fiasco Babilônia, que amarga a lanterna da lista histórica do horário, mas ainda em franco declínio. Das 9 novelas acima, apenas quatro registraram audiências superiores a 35 pontos. Império, o último sucesso - com o "comendador" Alexandre Nero - teve apenas 32. Curiosamente (ou não), Aguinaldo Silva é o autor que melhor tem se saído, sendo sua Fina Estampa que lidera a lista, com 39,1 pontos.

Ibope aparte, podemos dizer que a tortuosa trama de Romero Rômulo "vingou", mas podia ter sido melhor. O próprio Nero admite que seu personagem era "um banana", bom demais para ser vilão, e ruim o suficiente para não figurar entre os mocinhos. Ué, mas não é de anti-heróis que o povo gosta? Sim e não. O Comendador foi um bom anti-herói, Romero não. Exemplo preciso, já que foram vividos pelo mesmo ator.

A história envolvendo a facção criminosa, liderada pelo Pai Gibson (José de Abreu) conseguiu atrair o público na metade final, apesar da "concorrência" desleal do noticiário político e policial do país. É inegável que a "novela" da Lava Jato é a melhor coisa no ar há dois anos...
Já os núcleos cômicos falharam miseravelmente - tanto os do Morro da Macaca quando o da família de Feliciano (Marcos Caruso, sempre ótimo) - a ponto de terem seu tempo em cena encurtado e tramas deixadas de lado. Os personagens vividos por Bruno Mazzeo, Monique Alfradique, Fábio Lago e Cris Vianna foram esquecidos antes do fim da novela. Cris Vianna, aliás, é uma das que sofrem do mal de viver papéis similares em pouco tempo, já que viveu uma moradora de comunidade carioca em Império, há menos de um ano.

Por outro lado, tivemos Suzana Vieira sendo ela mesma, com uma personagem plana e sem emoções, a líder do morro Adisabeba. Se ela fosse da facção, por exemplo, seria uma bela reviravolta perdida...

Mas vamos aos destaques: Giovanna Antonelli segue sendo um bálsamo sempre que está em cena, salvando seu núcleo em tramas bizarras como Salve Jorge (todo mundo se lembra da delegada vivida por ela, mas não do restante da novela). O "velho" Tonico Pereira também foi impagável, como tudo que o ator faz. Tony Ramos não ficou atrás, deixando a dúvida sobre o caráter de Zé Maria até o fim. Coisa de mestre. É, acho que para por ai.
Marco Pigossi, Cauã Reymond e Vanessa Giácomo foram os mocinhos monocórdios, incorruptíveis em busca de justiça. Ou seja, chatos. Isso que Cauã interpreta o mesmo personagem desde Jorginho de Avenida Brasil, repare bem! Jovem incompreendido que busca justiça e enfrenta os pais. Foi assim até em O Caçador, fala sério...

O que esperar de Velho Chico?

Mas chega de reclamar de A Regra do Jogo. Como bem disse o título do episódio após a morte do Pai: Rei Morto, Rei Posto. Vem aí Velho Chico, o retorno do universo rural de Benedito Ruy Barbosa e Edmara Barbosa ao horário nobre.

Para quem não lembra, a última produção de Benedito na faixa das 20h/21h foi Esperança, fiasco de 2002. Depois disso, o autor dos sucessos Pantanal (na Manchete) e O Rei do Gado foi defenestrado para o horário das 18h, onde veio produzindo nos últimos anos. Seu estilo casa muito bem com as "novelinhas das seis", tanto que os remakes de Cabocla e Sinhá Moça já foram até reprisados. Paraíso e Meu Pedacinho de Chão, porém, foram mais fracos.

Benedito volta "com sangue nos olhos" ao lado do diretor de O Rei do Gado, o irreparável Luiz Fernando Carvalho. Nas chamadas que vimos de Velho Chico, sua fotografia e estilo já mostraram a que vieram, de altíssima qualidade! 
O elenco não fica atrás, com Tarcísio Meira, Selma Egrei e Rodrigo Santoro estrelando a primeira fase. Santoro, hollywoodiano que não atua em novelas desde Mulheres Apaixonadas, de 2003.

Para finalizar, uma trama shakesperiana de amores e rixas familiares, no sertão banhado pelo Rio São Francisco e embalado pela trilha de Caetano Veloso, com a icônica Tropicália. Tá bom ou quer mais?

Só espero que a segunda fase mantenha a qualidade da primeira, que promete ser tão marcante e bem feita como foi o início de O Rei do Gado (até hoje, acho que merecia ter sido compilada em filme). Antonio Fagundes vai assumir o papel de Rodrigo Santoro e teremos um reboot de Bruno Mezenga. 
Resta saber se o público que adorou rever a trama ano passado no Vale a Pena Ver de Novo é o mesmo que assiste a faixa das 21h, e se realmente o escapismo do sertão vai atrair a audiência. Particularmente, acho que sim, apesar das promessas de boicote feitas - de forma mais do que justa - após as declarações homofóbicas de Benedito Ruy sobre personagens gays em novelas. Uma bela oportunidade perdida de ficar calado...

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